Nos últimos anos as fortes flutuações das taxas de juros e os efeitos da pandemia tiveram forte impacto sobre a geração de poupança financeira de famílias e empresas e sobre a rentabilidade dos ativos financeiros e daí sobre a alocação de carteira de aplicações dos investidores. O objetivo desta Nota CEMEC Fipe é analisar o impacto das mudanças das taxas de juros nas decisões de investimento e na alocação das carteiras dos investidores nacionais e estrangeiros e suas implicações sobre o desempenho do mercado de ações.
A evolução dos principais indicadores de crescimento, inflação, taxas de juros e taxa de cambio, demonstram a elevada volatilidade macroeconômica da economia brasileira nos últimos anos, e nesse contexto busca-se examinar os principais efeitos das taxas de juros sobre o mercado de ações. Os números sugerem que além do impacto da taxa real de juros sobre o valor das ações (IBOVESPA) , com coeficiente de correlação negativo (-) 0,51 entre as duas variáveis, o aumento do custo de capital próprio tem forte impacto negativo sobre a emissão primaria de ações, importante fonte de recursos para compor o financiamento de investimentos.
Análise da movimentação de ações dos investidores nacionais, que também investem no exterior mas cujas carteiras são concentradas em ativos domésticos, e dos investidores estrangeiros, em cujas carteiras certamente predominam ações e outros ativos de vários países, mostra diferenças significativas em relação às taxas de juros. Enquanto na maior parte do período a movimentação liquida em ações dos investidores nacionais responde às taxas de juros, com um coeficiente de correlação negativo e elevado, de (-) 0,80, ocorre exatamente o contrário com os investidores estrangeiros. Sua movimentação tem coeficiente de correlação positivo de (+) 0,75, fazendo com que sua atuação compense ou mesmo inverta o impacto dos investidores nacionais no IBOVESPA². Por exemplo, no período de março a junho de 2022, mesmo com juros altos e em elevação, os investidores nacionais aumentam suas aplicações em ações aparentemente antecipando o fim do ciclo de aumento da SELIC, enquanto que os investidores estrangeiros desinvestem.
