Sumario
Com a evidencia de agravamento das condições financeiras das empresas no primeiro trimestre de 2023, com os dados disponíveis até março, deliberou-se reproduzir nesta Nota o tema já adotado na Nota CEMEC Fipe 01/2023, que utilizou os dados disponíveis até janeiro de 2023.
O aumento dos índices de inadimplência das empresas, num quadro de queda das taxas de crescimento e provável permanência de altos custos de financiamento nos próximos trimestres, tem aumentado as preocupações sobre os riscos de uma crise de crédito especialmente depois do pedido de recuperação judicial de uma empresa do porte da Lojas Americanas, além das dificuldades financeiras evidenciadas em várias empresas de grande porte.
Os fatores que tem levado ao aumento dos índices de inadimplência e outros indicadores de problemas financeiros das empresas, as dificuldades de renegociação de divida de crédito bancário e do mercado de divida privada, com aumento dos spreads guardam considerável semelhança com a evolução de crises de crédito na historia de crises financeiras¹. Empresas aumentaram seu endividamento em 2020/21, com baixas taxas de juros, num período de acelerada recuperação da economia e tem enfrentado acentuada reversão desse quadro ao longo de 2022, com forte aumento do custo de capital e redução das taxas de crescimento econômico. No cenário macroeconômico de mercado, com menos crescimento e permanecia de taxas de juros elevadas ainda por vários meses, parece razoável supor a continuidade de elevação da inadimplência dificuldades financeiras das empresas nos próximos meses antes que as redução da taxa de juros favoreça a superação desse quadro.
O uso das demonstrações financeiras das empresas abertas até o primeiro trimestre de 2023 reforça esse cenário de manutenção dessas dificuldades financeiras nos próximos meses. Nos dados consolidados das empresas abertas de todos os setores (indústria, comercio e serviços) as taxas anuais de crescimento das despesas financeiras superam por larga margem o crescimento da geração de caixa, situação que torna altamente a reversão de queda dos indies de cobertura de despesas financeiras nos próximos meses . Contribui também para esse cenário a constatação de que após o substancial aumento de margens de lucro bruto e geração de caixa em 2021, ocorre clara tendencia de queda, induzida pela redução da relação entre aumento de preços do atacado e do custo unitário do trabalho, cuja continuidade é indicada pela deflação do IPA no últimos meses ao mesmo tempo os salários reais tem crescimento significativo, com a queda dos índices de desemprego².
A valer esse cenário, é importante lembrar que, se julgar necessário, o Banco Central tem condições de atuar com agilidade para mitigar riscos de uma crise de crédito e agravamento da situação financeira das empresas, como aliás ficou demonstrado com as medidas emergenciais i adotadas em março de 2020.
1 (2010) Keneth Rogoff e Carmen M. Reinhart – Oito Séculos de Delírios Financeiros – Desta Vez é Diferente – Ed. Campus Elsevier
2 V.. Helio Zylberstajn – Temas de Economia Aplicada – Negociações salariais e conjuntura econômica - Boletim de Informações da Fipe - Maio de 2023 .